Ciclismo Veicular

Introdução

Ciclismo Veicular, num sentido amplo, nada mais é que a prática de conduzir bicicleta na via pública de maneira competente, responsável, confiante (assertiva), cooperativa, e segura. É pedalar com a plena consciência de que a bicicleta é um veículo. Não é uma noção nova – longe disso – mas é uma noção que foi esquecida, em certos lugares, e ainda não chegou a ser estabelecida, em outros tantos. Entre nós (Brasil), este saber é quase sempre adquirido de maneira empírica, ao longo de anos de prática, milhares de pedaladas, e através de um penoso processo de tentativa e erro.

No sentido estrito, Ciclismo Veicular (Vehicular Cycling) é um termo cunhado e definido em seus mínimos detalhes por John Forester. Outros autores com contribuições influentes e significativas  sobre o tema são John Franklin e John S. Allen.

Os dois sentidos têm mais semelhanças do que diferenças. O segundo (Ciclismo Veicular “clássico”) é fundamentado em estudos científicos tanto quanto na observação e experiência; é uma prática formalizada que não deixa muito espaço para opiniões e achismos. No sentido amplo, há naturalmente muito espaço para as idiossincrasias de cada pessoa. Isso é muito bacana e tem tudo a ver com a noção de liberdade, tradicionalmente associada à bicicleta, e que a torna um veículo tão atraente. Há um porém, entretanto: temos a tendência de acreditar que nosso jeito é o certo – mesmo que este claramente não seja o caso.

Para o ciclista iniciante, inteirar-se o quanto antes dos princípios de como conduzir bicicleta de maneira veicular pode levar a um aprendizado mais rápido e agradável, e evitar uma grande quantidade de dissabores e riscos. Para  o ciclista experiente, procurar se aprofundar no tema, se atualizar, reavaliar e refinar suas técnicas e estratégias é uma prática inteligente e altamente recomendável – comparável aos cursos de direção defensiva e de reciclagem que são oferecidos aos motoristas.

Bicicleta “apenas brinquedo” – um estigma

As primeiras pedaladas geralmente acontecem na infância. Crianças bem pequenas já conseguem pedalar um triciclo e direcionar sua trajetória. Um pouco mais tarde, aprendemos a pedalar uma bicicleta de verdade, geralmente com rodinhas de apoio lateral que vão sendo abandonadas, pouco a pouco, à medida que o complexo senso de equilíbrio vai se estabelecendo.

Para a criança, a bicicleta é uma coisa muito importante – uma coisa “séria”, digamos. Mas, para os adultos à sua volta, aquela maquininha tão eficiente e maravilhosa é apenas um brinquedo como qualquer outro. Esta visão da bicicleta como “apenas brinquedo” acaba por preponderar, de maneira que, lá pela adolescência, a bicicleta vai deixando de ser tão interessante, e aos poucos é abandonada a um canto. O jovem adulto geralmente sente necessidade de corresponder às pressões sociais, que incluem conceitos irracionais mas nem por isso menos poderosos, tais como p.ex.: possuir (e utilizar mais do o necessário) automóvel é algo imprescindível; bicicleta é coisa de pobre (ou de criança) (ou de atleta). Se este jovem não for um praticante entusiasta do ciclismo, e contar portanto com um grupo social dentro do qual a bicicleta goza de um bom status (um novo tipo de preconceito), a bicicleta será deletada de sua vida, talvez para sempre.

Felizmente, muitas dessas pessoas redescobrem o prazer de pedalar, após muitos anos de distanciamento. Geralmente essa redescoberta surge dentro do contexto de busca de saúde/atividade física. Andar de bicicleta é agradável mesmo para um completo sedentário. Algumas dessas pessoas se tornam ciclistas aficionados, encontram um grupo social apoiador, e vêm a praticar intensamente alguma modalidade ciclística. Esta prática lhes traz imensos benefícios físicos e psicológicos; mas não necessariamente elimina o estigma, nem garante que essas pessoas se tornem bons condutores de bicicleta.

O estigma da bicicleta como “apenas brinquedo” (do qual a “bicicleta apenas equipamento esportivo” é uma versão mais sofisticada) retorna, e pela primeira vez passa a causar problemas. Pois o vivente que recém reencontra a bicicleta geralmente está mal aparelhado para lidar com o mundo adulto – enquanto ser pedalante. Ele/ela até consegue manter os pneus no chão e os pedais girando; faltam-lhe porém todo o resto: coordenação e habilidade; conhecimento básico da legislação; conhecimento básico de técnicas e estratégias eficientes para se sair bem no ambiente urbano e rodoviário.

Essas carências podem ser facilmente observáveis no estilo de condução:

  •  trajetória errática, imprevisível, que transmite insegurança a quem precisa ultrapassar;
  • atitude excessivamente despreocupada, distraída, como se estivesse pedalando num parque, ao pedalar na via (como uma criança faria);
  • às vezes o oposto do anterior: uma atitude excessivamente amedrontada, hesitante (como uma criança quando posta em uma situação ameaçadora), que invariavelmente leva a tomar decisões equivocadas, que aumentam os riscos;
  • pedalar na contramão e/ou na calçada;
  • mudar de faixa, ou de posição dentro da faixa, sem primeiro olhar para trás, muito menos sinalizar; e por aí vai.

De tudo isso, o mais importante, porém – o fator realmente decisivo – é: falta-lhe a noção essencial. 

A bicicleta é sim um brinquedo, quando somos crianças; para os adultos, a bicicleta é sim uma fonte inesgotável de prazer, que pode até nos reconectar com a infância; mas a bicicleta é muito mais do que apenas um brinquedo; e também é mais do que um equipamento de fitness ou um apetrecho esportivo.

A bicicleta é um veículo.

A bicicleta é um veículo de propulsão humana, regulamentado pelo Código de Trânsito Brasileiro.

Se não temos a plena consciência desta noção – não apenas num nível racional, mas lá no fundo do peito tbém – não conseguimos exercer nossos direitos enquanto condutores de um veículo – mesmo que tenhamos noções de legislação. 

Quando nos tornamos capazes de ver a bicicleta como um veículo, podemos – e devemos, para nosso próprio bem – começar a falar em Ciclismo Veicular.

Bicicleta é “coisa de pobre” – outro estigma

Num outro cenário, mais abaixo na pirâmide social, vemos muitas pessoas que não abandonam a bicicleta após a infância; de fato elas usam a bicicleta como veículo – basicamente porque não têm condições de adquirir um veículo motorizado. Essas pessoas, via de regra, são tão ignorantes dos princípios do Ciclismo Veicular quanto seus “colegas” da classe média e alta.  Em regiões de baixa renda, pedalar na contramão é a “norma”, não a exceção; bem como pedalar à noite, sem nenhum tipo de acessório refletivo (faróis e lanternas então, nem pensar). Isso gera um grande número de acidentes, muitos dos quais graves.

De tudo isso, o mais triste é que essas pessoas, por não terem acesso a uma educação ciclística (nem a classe média tem, no Brasil), não são capazes de ver suas bicicletas como veículos, nem a si mesmos como condutores de veículos – que têm deveres mas também direitos. Bicicleta é coisa de pobre, e pobre tem na prática menos direitos, em nossa sociedade cruelmente desigual. Aqui temos um outro tipo de estigma e um outro obstáculo ao estabelecimento da bicicleta como veículo pleno.

Porque o Ciclismo Veicular é importante

Toda pessoa que pedala – por esporte, lazer, ou transporte, não importa – deve adquirir ao menos as noções básicas de Ciclismo Veicular. Espera-se (e exige-se) de todo motorista conhecimento básico das normas de circulação e conduta, legislação, direção defensiva, primeiros socorros, etc. Apenas saber dirigir, debrear, estacionar, etc, não basta para obter a carteira de habilitação. Para conduzir bicicleta, nenhuma habilitação é exigida, felizmente. Mas isso acaba reforçando a noção equivocada de que a bicicleta é um brinquedo, ou um equipamento esportivo, apenas, e que cada um pode conduzir bicicleta do jeito que lhe der na telha.

As conseqüências são:

  • uma grande quantidade de acidentes evitáveis,
  • uma grande quantidade de pessoas que gostaria de pedalar mas não o faz por medo excessivo (infundado), e
  • uma grande dificuldade de aceitação da bicicleta como veículo, por parte da maioria não-pedalante da sociedade.

Quando nós ciclistas aprimoramos nossa condução, e ajudamos outras pessoas a fazer isso tbém, produzimos dois grandes benefícios:

  1. aumentamos muito, e de forma imediata, nossa segurança individual, ao reduzir drasticamente as oportunidades do infortúnio ocorrer, e estabelecer uma relação de cooperação com os outros atores do trânsito;
  2. em médio/longo prazo, melhoramos a imagem da bicicleta/do ciclista aos olhos dos não-ciclistas (que são a maioria, e continuarão a sê-lo, queiramos ou não, por muito tempo), o que leva a uma progressiva aceitação mais ampla da bicicleta como veículo, a um maior respeito de parte dos motoristas, e possivelmente a uma maior difusão da bicicleta.

Fundamentos do Ciclismo Veicular

Um conjunto de instruções sobre como conduzir bicicleta pode ser algo tão simples e básico como a ótima lista de dicas do Macedo, ou algo tão completo e científico como o capítulo “The Environment of Cycling” (130 páginas), do clássico de John Forester (Effective Cycling). O guia Pedalando com Segurança (tradução de How to Not Get Hit by Cars de Michael Bluejay) seria um meio-termo; é claramente inspirado em Forester, e foi popularizado por este blog. O manual de John Allen – Bicycling Streets Smarts – é bem mais completo, está disponível em versão online, e ocupa razoáveis 46 páginas. Ainda não há versão em português.

Alguns vídeos didáticos muito bons (outros, nem tanto) estão disponíveis na Rede. Recomendo muito este (e os dois subseqüentes). Nenhum em português, que eu saiba. Se alguém se habilita a produzir um, eu estou à disposição para ajudar no que puder.

O próprio John Forester fornece este resumo do Ciclismo Veicular em 5 tópicos (a tradução é minha, correções são bem-vindas):

“Existem 5 princípios fundamentais para pedalar no trânsito. Se você seguir esses 5 princípios, você poderá pedalar em muitos lugares aos quais deseja ir, com uma baixa probabilidade de se envolver em conflitos de trânsito. Você não fará tudo da maneira ideal, e você ainda não saberá como se safar de problemas causados por outros condutores; mas você já estará conduzindo muito acima da média [dos ciclistas norte-americanos].”

  • Pedale pelo lado direito da via; nunca pela esquerda, e nunca em cima da calçada.
  • Quando você chega a um cruzamento com uma avenida preferencial em relação àquela na qual você está, dê a preferência. Isso significa: olhar para ambos os lados e esperar até que seja possível cruzar com segurança.
  • Quando você precisa mudar de faixa, ou mover-se lateralmente dentro da mesma faixa, dê a preferência. Neste caso, isso significa: olhar para frente e para trás até certificar-se que é seguro fazer a manobra.
  • Ao se aproximar de [antes de chegar a] uma interseção, posicione-se de acordo com o destino desejado – se você vai virar à direita, fique na direita, próximo ao meio-fio; se vai virar à esquerda, fique à esquerda, junto à linha central; e se vai seguir reto, entre as duas posições acima. [interseções são: cruzamentos, entroncamentos e bifurcações de todos os tipos]
  • De maneira geral, posicione-se conforme sua velocidade relativa ao trânsito motorizado; quanto mais devagar, mais perto do meio-fio, quanto mais rápido, mais perto da linha central.

“(…) por enquanto, pedale em ruas mais tranqüilas, com pouco trânsito, e lembre de seguir esses princípios desde o momento em que sai de casa (o acesso da sua garagem é uma ruazinha que cruza com uma rua maior). Então vá ganhando experiência de pedal, aos poucos; isso vai possibilitar que você entenda e aprenda os hábitos e manobras mais complexos.” Forester, Effective Cycling, MIT Press, 6ª edição, página 245.

“(…) sua técnica vai melhorar à medida em que você desenvolver auto-confiança e senso de timing, e a sua confiança vai aumentar à medida em que você for descobrindo que a técnica realmente funciona”. Idem, pág 307.

“Cultivar hábitos seguros que evitam situações de potencial perigo é melhor do que tentar escapar de um acidente que já começou a acontecer”. Idem, pág 322.

Ciclismo Veicular e Cicloativismo

Ciclismo Veicular é um saber, um conjunto de técnicas – não uma ideologia. É algo quase tão antigo como a própria bicicleta; as primeiras leis de trânsito foram criadas para os ciclistas, antes que o automóvel existisse! Ciclistas Veiculares são pessoas que sabem conduzir bicicleta em via pública, incluindo situações problemáticas e potencialmente perigosas, com desenvoltura e segurança. Ciclistas Veiculares são geralmente (mas não sempre) pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte; mas isso não faz deles, automaticamente, militantes anti-carro; nem ativistas pró-ciclovias, nem tampouco contra ciclovias.

Nos EUA, entretanto, existe um conflito histórico entre ciclo-educadores veiculares e ciclo-ativistas pró-ciclovias. Alguns representantes de ambas “escolas”, no afã de defender com unhas e dentes suas idéias, acabaram por assumir posturas rígidas e adversariais. Houve manifestações desabonadoras de parte a parte, o que agudizou o conflito e desqualificou a todos. Isso é lamentável.

Se o Ciclismo Veicular não é uma ideologia, então Ciclistas Veiculares tampouco são necessariamente adversários da proposta cicloviária. Pessoalmente não vejo as duas concepções como excludentes. O contexto local tem um papel muito importante. Não faz sentido ser anti-ciclovia em Copenhague – uma cidade onde o sistema cicloviário é amplo, e reconhecidamente bem-sucedido – mas tbém não faz sentido ser contra o Ciclismo Veicular em nenhum lugar!; pois sempre que não houver ciclovia (a imensa maioria dos lugares), o ciclista precisará saber se comportar como condutor responsável e competente; e mesmo onde há ciclovias, estas necessariamente interagem com a via motorizada (cruzamentos), e é justamente nessas situações que um bom domínio das convenções veiculares se revela imprescindível.

Alan Barnard, do conhecido blog EcoVelo, consegue apaziguar as duas concepções com este iluminado texto.

O vídeo abaixo documenta a avaliação de trânsito a que todas as crianças de 12 anos são submetidas, na Holanda – e com isso apresenta um argumento definitivo em favor do Ciclismo Veicular. A Holanda é considerada uma espécie de paraíso das bicicletas; o país tem tradição e cultura ciclística, uma malha cicloviária extensa, quase onipresente, alto índice de adesão à bicicleta, leis favoráveis, e trânsito benigno. Não obstante, lá existe a preocupação em educar e treinar as pessoas nos fundamentos do Ciclismo Veicular – que são os mesmos fundamentos de educação para o trânsito, independente do tipo de veículo – desde a mais tenra idade. A brincadeira vira coisa séria. O brinquedo vira veículo. Sem perder a ternura jamais.

Um Ciclismo Veicular Tropical?

O Ciclismo Veicular clássico é praticamente desconhecido no Brasil. Alguém poderia questionar (e certamente alguém o fará), mas será que isso funciona aqui?

Bem, nós temos leis de trânsito. Nós conduzimos nossos veículos motorizados de acordo com as normas de circulação e conduta. De maneira geral, isso funciona. Muitas pessoas burlam as regras, e em nossa cultura existe um grau alto de complacência para com isso. Mesmo assim, de maneira geral, consideramos bons condutores aqueles que seguem as regras e convenções, e se burlam, o fazem apenas excepcionalmente, de maneira sutil, com bom-senso, e sem causar riscos para si nem para outros. Esses bons condutores não criam conflitos e raramente se envolvem em acidentes. Respeitar para ser respeitado é algo que definitivamente funciona. Isso significa que as regras e convenções funcionam. Por que não funcionariam para a bicicleta?

A legislação de trânsito é muito semelhante em todos os países, mas existem diferenças. Exemplos: nos EUA, em alguns estados, é permitido aos motoristas converter à direita, mesmo quando o semáforo estiver vermelho (!). A regra de distância lateral mínima para ultrapassagem é 3 pés (pouco mais de 90 cm), enquanto que no Brasil é 1,5 m. Em um único estado norte-americano (Idaho) é permitido aos ciclistas tratar o semáforo vermelho e o sinal de parada obrigatória como um sinal de “dê a preferência” (basta reduzir, olhar, e seguir se for seguro). Na Alemanha existem exceções para a obrigatoriedade de trafegar na ciclovia. Precisamos portanto adaptar o Ciclismo Veicular à nossa legislação.

E quanto às diferenças culturais? O Ciclismo Veicular clássico, dizem alguns, é um produto cultural britânico. Como seria um Ciclismo Veicular tropical, mais moreno, por assim dizer? Creio que há espaço e até necessidade para adaptações aqui também. Mas não se pode adaptar ou modificar algo que não se conhece. Reinventar a roda, por outro lado, pode ser divertido, mas não é prático, e nesse caso não seria muito inteligente. Então me parece que vale a pena aprender com Forester & Cia, e então adaptar o sistema ao nosso contexto, ou até mesmo tentar ir além.

Sobre lobodopampa

Falar de si mesmo é contraproducente. Ah: lobodopampa e artur elias são a mesma pessoa (eu acho).
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16 respostas para Ciclismo Veicular

  1. Muito legal, eu acho a segurança primordial. Ainda morrem 50 crianças por ano na Hollanda ou é algo antigo? Que locura. Quando morrei lá, foi trabalhar todos os dias durante 6 meses, nunca tive nenhum situação nem um pouco perigosa (com 40 minutos de bicicleta)! Aqui em Vitória em menos de 40 minutos sempre tem pelo menos uma situação perigosa, nem que seja somente um pouco perigosa, sem perigo de morte!
    Eu gosto bastante do Forrester. Eu costumo ocupar bastante as pistas estreitas. Eu vi muitos colegas daqui ter problemas em caso de pistas estreitas. Tipicamente o ônibus ultrapsse e depois o ciclista fica espremido no meio-fio sem solução, sem tempo e sem espaço acabando de vez em quando em queda, e felizmente por enquanto, não conheço pessoalmente nenhum ciclista que morreu atropelado. Eu fiquei sabendo de dois casos assim em Vitória e parece que o empresário Paulista morreu atropelado em circonstâncias parecidas, espremido no meio-fio, muito triste.

    A ocupação de uma pista por um ciclista aqui na Grande Vitória é bastante complicada, muitos motoristas são muito apressados. A velocidade média não é a mesma do que nos Estados Unidos. Lá, quando a velocidade máxima é 40 km/h, ela é respeitada porque tem fiscalização… Aqui não existe isso….

    No vídeo doForrester, não vi a tradução, talvez não achei?

    Parabéns plo Blog, excelente, eu acho que eu preciso imprimir para ler!

    Emmanuel,
    Blog Vitória Sustentável
    http://vitoria-sustentavel.blogspot.com/

    • lobodopampa disse:

      oi Emmanuel

      obrigado pelo comentário tão pertinente.

      O vídeo não é do Forester. Existe um vídeo chamado “Effective Cycling” inspirado no livro do Forester. Esse vídeo era um produto da League of American Cyclists na época em que Forester foi presidente da liga. Depois que ele saiu a Liga mudou o material didático para um modelo mais simplificado. Eles tem um vídeo atualmente, eu vi o trailer e achei um pouco fraco e excessivamente baseado em chavões. O vídeo “Effective Cycling” é uma raridade que eu gostaria de conhecer.

      Este que eu postei se chama “Cyclist’s Eye View” e é uma produção conjunta de uma organização de ciclistas e Prefeitura de Long Beach, California. De fato não tem legendas, ainda.

      Este e alguns outros tbém interessantes estão aqui:

      http://www.vehicularcyclist.com/vcvideo.html

    • Olavo Ludwig disse:

      Emmanuel, só corrigindo, são 15 crianças não 50!

  2. Aldo disse:

    A interpretação da legislação de trânsito no Brasil é um caso a parte. Aqui, todos os motoristas, ciclistas e fiscais de trânsito entendem que a placa de PARE significa “dê a preferência”. Este é apenas um exemplo para mostrar a importância de se desenvolver um conhecimento de ciclismo veicular adaptado à nossa realidade.

  3. lobodopampa disse:

    De fato. Esse exemplo é bem típico (e cá entre nós, não acho algo tão ruim assim).

    A competência do ciclista veicular consiste não apenas em conhecer a legislação, mas tbém fazê-la trabalhar a seu favor. Mas para isso a pessoa tem que primeiro se dispor a conhecer e obedecer as leis. Até mesmo Forester recomenda expressamente desobedecer uma ou outra lei que ele considera absurda e discriminatória! Como dizia o compositor Ernst Widmer: “para ser excêntrico, é preciso ter um centro”.

    A questão da ocupação de espaço – ocupar ou não a faixa inteira, quanto ocupar da faixa, etc – é complexa e exige exame/debate à parte.

    Adiantando um pouco minha opinião atual sobre isso:

    muitas pessoas pedalam grudado no meio-fio, porque têm medo. Esse era o comportamento tradicional (quando não pedalam na contra-mão nem na calçada). Isso está mudando, e hoje já tem muita gente (que segue o guia publicado neste blog) que faz o contrário: ocupa toda a faixa (quase) todo o tempo. Essa última técnica é em tese uma técnica veicular clássica. No entanto, vê-se que essas pessoas, que aplicam esse princípio à risca, aqui em PoA, têm enfrentado muitos problemas. Elas se queixam com muita freqüência e às vezes parecem muito revoltadas. Outras pessoas, que conhecem esse princípio, mas procuram se adaptar a CADA situação, avaliando em tempo real o que está acontecendo, procurando desenvolver uma espécie de “inteligência emocional veicular”, enfrentam muito menos problemas, e convivem muito bem com o trânsito.

    Eu creio que o “Ciclismo Veicular Tropical” deva ir por esse caminho, que tem tudo a ver com uma característica maravilhosa (quando bem usada) da nossa cultura: a flexibilidade.

    [ ] fraterno

    a.

  4. heltonbiker disse:

    “Os bons condutores são aqueles que seguem as regras e convenções, e se burlam, o fazem aoenas excepcionalmente, de maneira sutil, com bom-senso, e sem causar riscos para si nem para outros.”

    Essa é a Regra de Ouro para mim. Se todos agissem assim, independente do veículo ou mesmo a pé, não haveria 95% dos problemas de trânsito que vivemos diariamente, e ainda sem que qualquer outra mudança fosse necessária.

    • lobodopampa disse:

      Verdade. Dependendo de como o condutor entende “excepcionalmente”. Geralmente temos grande faciidade em justificar as nossas “burladas”, mas as dos outros nos parecem absurdas e ofensivas.

      Isso de não causar risco (aos outros) é tbém subjetivo e polêmico. Muitas vezes, o autor da manobra ilegal ou descortês tem certeza que tomou todo o cuidado para não prejudicar ninguém – sem perceber (ou sem aceitar) que alguém de fato se sentiu prejudicado ou posto em risco.

      Inteligência emocional, tolerância, compaixão.

      Pensar mais “nós” e menos “eu”, no trânsito.

      Isso realmente funciona.

  5. Aldo disse:

    Sõ agora, dois dias depois de publicado, arrumei um tempo para ler este texto da forma que deve ser lido. Eu ja esperava um texto excelente, mas foi muito além. Não seria exagero ou bajulação classificã-lo como uma pequena obra-prima. O único “problema” dele é não estar adptado ao contexto de informações rápidas e de fácil digestão da Internet. Claro que estou ironizando, pois não há como provocar o leitor a pensar a complexa questão do ciclismo veicular, nesta necessária profundidade, com textos leves e fáceis.

    Aconselho às pessoas a imprimirem este texto, em PDF ou mesmo em papel, para ler devagar, reler e guardar como referência ao assunto. Com certeza vale à pena. Há uma quantidade muito grande de informações nele que foram habilmente resumidas e organizadas passo-a-passo de modo a exigir quase nenhum conhecimento prévio para acompanhá-lo. Isto aliás deixa a sua leitura especialmente prazeirosa, pois é possível seguir facilmente a linha de raciocínio do autor, quero dizer, do Artur. 🙂

    Eu me considerava razoavelmente à par deste assunto, mas aprendi mutas coisas novas, além de organizar melhor as que eu já sabia. Agora vou clicar nos links para continuar o aprendizado. Obrigado, Artur, e parabéns!

    Andei pensando em como os “pobres” pedalam e me dei conta que normalmente é bem devagar. Isto possibilita alguns comportamentos errados, como pedalar na contramão e na calçada, sem maiores riscos. Só que perde muito do sentido de se transportar de bicicleta, no meu modo de ver. pois fica apenas um pouco mais rápido que caminhar, só que menos cansativo. Esses ciclistas talvez ainda não tenham se dado conta de como a bicicleta pode ser eficiente se houver condições de tráfego mais favoráveis.

    • lobodopampa disse:

      Muito obrigado, Aldo, pela gentileza, mais ainda por ter se dado ao trabalho de ler tudo. Estava claro para mim tbém que as dimensões deste ensaio não se enquadram nos moldes normais de blog. Mas não consegui evitar, por várias razões.

      Sei que pouquíssimas pessoas vão ler. Os ciclistas em sua maioria não me parecem interessados em melhorar a si mesmos (o que exige esforço), e nisso reproduzem à perfeição o comportamento da maioria dos… motoristas.

      Mas sempre tem algumas pessoas mais pró-ativas e são essas que saberão aproveitar o manancial de informação contido nos linques e vídeos acima. Com um pouco de sorte, essas pessoas influenciarão outras. É um começo.

      Para compensar as dimensões deste, daqui em diante planejo publicar uma série de posts BEM CURTOS, intitulada “Ciclismo Veicular em Gotas”. Esses não vão conter opinião minha, serão apenas citações.

  6. Cesar Buffon disse:

    Toda a vez que eu vejo alguma degradação da educação no trânsito (digo, alguma barbárie cometida nas ruas) tento entender qual é a dificuldade de ler as regras de trânsito e cumpri-las… Penso, às vezes, que andaram rasgando o “código nacional de transito” e eu ainda não estou sabendo disso! (risos) … Conheço pessoas que tem medo de pedalar, tudo por conta de uma violencia, cuja a raiz se encontra na educação (mais precisamente, na falta dela).

  7. lobodopampa disse:

    oi Cesar

    De fato falta educação para o trânsito de uma maneira geral.

    Permita-me porém discordar em parte: o medo de pedalar não é só por conta da agressividade (violência já seria outra coisa). O medo de pedalar é fundamentalmente uma conseqüência direta do fato que as pessoas não sabem pedalar de forma adulta. Mesmo quem tem carteira de motorista costuma ter dificuldade em entender a bicicleta como veículo.

    Ciclistas competentes têm muita confiança e pouco medo.

    Isso não tem nada a ver com porralouquice (desculpe a má palavra).

    É técnica mesmo.

    E comunicação.

    • Cesar Buffon disse:

      Artur… não me apresentei… sou ciclista, tenho carteira de habilitação, e tb sou pedestre, e sou um cidadão brasileiro. e assim como eu, outros cidadãos tentam conduzir (ou uma bike, ou um veiculo) de forma civilizada… e claro que não sou nenhum santo, pois de vez em quando burlo alguma regra (de bike ou de carro). Pedalando, ja senti na pele de preconceito até agressividade …
      É interessante saber que desde quando eu comecei a pedalar de forma consciente (adulta) houve mudanças no comportamento dos cidadãos. Em 1990, andando à favor do fluxo e de capacete, eu era taxado de idiota ou maluco… aos poucos este comportamento pedeu força e o que era exceção virou regra. Em 1999, aconteceu um auge deste comportamento, sendo então aceito pelos clclistas de varias faixas sociais e uma significativa aceitação de quem trafega de carro e não usa bicicleta. Nos últimos anos vejo apenas um aumento do numero de veiculos automotores nas ruas e proporcionalmente um aumento da agressividade destes condutores. Acho que aqui recaimos na sempre discutida educação (na falta dela) e na inoperância dos orgãos fiscalizadores de trânsito que não acompanham este número crescente de veículos nas ruas… E com ruas tomadas por veiculos, sobra pouco espaço para quem usa uma bike, então, cada ciclovia que se consegue neste pais temos que prestigiar, pois é fruto de anos de persistencia junto aos orgãos publicos. (e de algumas vidas ceifadas ou mutiladas….)

      • lobodopampa disse:

        Cesar,

        obrigado pelo depoimento.

        Entendo e obviamente concordo com tuas críticas ao estado de coisas na política nacional (estadual, e municipal) de trânsito, especialmente no que diz respeito à educação, que por lei deveria começar no ensino fundamental (se não me engano).

        Porém chamo a sua atenção, e a de quem mais possa vir a ler este post/comentários, para o fato que os princípios do ciclismo veicular funcionam, INDEPENDENTE do grau de educação dos outros condutores. Isso é um fato, e muitas pessoas podem prová-lo na prática.

        O Ciclismo Veicular aposta – com muito sucesso – na cooperação e na comunicação baseadas em convenções que são conhecidas de todos os condutores. Além disso, acrescenta particularidades e cuidados específicos da condução da bicicleta. Adicione um pouco de direção defensiva e você consegue ir aonde quiser, sem passar por grandes sobressaltos, e com razoável segurança (muito mais do que as pessoas imaginam).

        Recomendo tomar um tempo e estudar os princípios a partir dos links e vídeos recomendados no texto acima. Uma vez entendido como funciona cada técnica, começar a exercitar, aos poucos, uma por uma, partindo de situações mais simples e avançando para as mais complexas (ou que parecem mais perigosas) à medida que o domínio, o senso de timing, e a auto-confiança aumentam. Essas três coisas andam juntas.

        Convido os céticos e todos aqueles que projetam TODOS os problemas do trânsito sobre os motoristas (não que seja o seu caso, obviamente) a estudar esses princípios, compreendê-los, e testá-los na prática. Tenho certeza que se surpreenderão – positivamente.

        Se isso é possível em Porto Alegre, onde o comportamento “metido a macho” é lugar-comum, então é possível em qualquer cidade brasileira.

  8. Cesar Buffon disse:

    Artur… Eu acabei não elogiando o texto do blog…
    Muito bom!!!
    E estas sendo positivo… e realmente, é tudo uma questão de prática… praticar a coisa em si… No início vai-se gastar 50% de ti pensando em como fazer e 50% de suor… depois estes percentuais mudam…. até que vc só pense 5% e sue 95% (e curte o caminho….)
    e, no trânsito, sempre cuide os outros, pois vc ja está se cuidando com as técnicas aprendidas (regra básica para dirigir/pilotar/pedalar)

  9. Olavo Ludwig disse:

    Muito bom Artur, só hoje pude ler com carinho, não pude ir na oficina, uma pena. Adorei o texto e os comentários, já compartilhei no facebook, com o comentário “leitura obrigatória para ciclistas ou não”, talvez mais algumas pessoas venham aqui e se beneficiem desta excelente oportunidade. Valeu!

  10. artur elias disse:

    Cesar e Olavo, muto obrigado.

    É confortador saber que pelo menos 3 ou 4 pessoas de fato se deram ao trabalho de ler este mega-post. Até porque deu realmente um mega trabalho juntar essa informação toda de forma (mais ou menos) organizada.

    Agora, o que me deixaria feliz MESMO, é saber que tem gente pegando essas informações e tentando botar em prática. Adquirindo mais habilidade, aprendendo a olhar pra trás e a fazer sinal sem desviar a trajetória; aprendendo a comunicar, negociar; se apropriando dessa coisa maravilhosa que é a bicicleta-veículo; se apropriando de fato dos seus direitos, descobrindo que eles andam de mãos dadas com os deveres (e que é bom que seja assim); descobrindo que não há inimigos no trânsito, só há condutores competentes e condutores confusos; descobrindo que locomover-se de bicicleta é muito, muito mais seguro e prazeroso do que geralmente se imagina – quando sabemos como se faz.

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