Cataventos

Quarta-feira eu estava de folga e era antes de uma semana de ensaios que eu sabia que iria ser puxado pois estamos ensaiando a primeira de Mahler e temos concerto também no domingo o que é cansativo pois aí não temos nenhum dia de descanso antes do concerto oficial de terça-feira.

Bueno, ao invés de ficar em casa morrendo de frio eu acordei às 5e30 e antes de clarear o dia eu já tinha pedalado alguns quilômetros do Caminho Livre 290. Fazia muito frio e eu fui que nem uma locomotiva soltando fumaça pela respiração o tempo inteiro. Faltando uns 20kms para os Cataventos de Osório começou a chover bem de leve e na beira da Laguna dos Barros o ar estava bastante úmido. Como estava com meu motor ligado e com as roupas certas eu não senti frio, só o prazer de fazer parte do meio ambiente ao meu redor.


Quando cheguei no pé dos cataventos eu fiquei feliz como uma criança mas ainda tinha uma uma divertida surpresa me esperando: REX um cachorrinho faceiro que estava com fome e carente. Dei o que tinha levado pra ele comer e depois brincamos juntos.



Foi interessante observar um momento que ele foi atravessar a rua e foi correndo, parou antes de chegar na rua sem olhar para o lado, passou um caminhão enorme e ele voltou em minha direção. As pessoas humanas também se baseiam em grande parte na audição para atravessar a rua e por isso que mesmo ciclistas que andam no sentido certo da via tem que cuidar se não tem um pedestre que pode se atravessar na nossa frente.

Na volta, logo depois da Laguna dos Barros eu parei em um boteco que tem logo antes do pedágio. Já estava chovendo mais forte quando cheguei ali e depois de comer açúcar com amendoim, sal com amendoim e duas chícaras de chá de Frutas e Flores secas eu parti embaixo de uma chuva mais forte ainda de quando eu tinha entrado no boteco. Antes de sair eu peguei uma jaqueta extra que tinha levado dentro de um dos meus porta trecos impermeáveis de garrafa PET 5L e botei ele logo depois da primeira camada da cebola humana, embaixo das outras roupas.

Cheguei na Av. Assis Brasil às 16e30 mas dali até o Bar da Gringa foi um parto. Foi a única parte de todos os 200kms que não foi puro prazer. Dividir um trânsito tão acelerado quanto parado em uma bicicleta de 9 kg, feita em casa, de bamboo com veículos extremamente pesados e grosseiros conduzidos por pessoas angustiadas, cheias de pressa, tanta pressa que ignoram o bem viver dos outros não foi muito legal.

Demorei mas cheguei, 😀

Eu consegui imaginar o que seria estar naquele frio sem as roupas certas e decidi que ao
chegar em casa eu iria separar as roupas que eu poderia passar adiante. Hoje, sexta-feira, eu levei comigo um blusão para dar para a primeira pessoa que eu achasse que não tinha roupas certas para tanto frio. Demorei só uma quadra e meia para encontrar uma pessoa com frio.

Se da para pedalar 200kms em um dia por que carros na cidade?

Ao meu ver conforto é ter saúde e não ser sedentário. Um bom cidadão é aquele que tem um espírito tipo de formiga. Toda formiga sabe que deve fazer a própria parte pela sociedade, como podem os humanos não perceberem e tomarem uma atitude em relação à isso? Como pode a sociedade não se dar conta que o modal automóvel utilizado como principal modal de transporte é ruim para todos? Como podem as pessoas não se darem conta que é uma enorme responsabilidade conduzir um veículo de mais de uma tonelada com dezenas de cavalos-força?

As bicicletas poderiam ser os veículos mais velozes permitidos dentro da cidade. Ontem fui assistir a um recital lá no instituto Goethe. Moro a uns 7kms, fui a pé e voltei a pé. Um futuro delicioso esta ao alcance das nossas mãos, basta que mais e mais pessoas acordem e passem a amar umas as outras ao invés de competir e buscar status como nos pedem os meios de comunicação patrocinados pela indústria.

Beijos e Abraços!

Esse post foi publicado em Sem categoria. Bookmark o link permanente.

10 respostas para Cataventos

  1. Olavo Ludwig disse:

    Grande Klaus, aprovadíssima então a nova bici?
    Excelente postagem, emocionante e inspiradora.
    Legal levar teu catavento para conhecer os pais, máquinas que tiram energia dos ventos e transformam em eletricidade, quando eu era adolescente eu sonha com geradores eólicos, achava que ventava muito no nosso litoral, e agora uns 25 anos depois eles estão lá funcionando.
    Hoje sonho com energia elétrica sendo gerada pela força humana, fico chocado com o desperdício de energia em academias. Quem sabe num futuro aproveitaremos muito melhor nosso potencial gerador.
    Parabéns, tu é um guri dos bons!!!!

  2. Luiz Porcher disse:

    “cebola humana” foi boa! parabéns tchê…. 200km! creio que o fator reclinável ajuda muito na diminuição do desgaste das costas, né? quero uma dessas um dia…
    só um adendo que não vejo porque não frisar: é Lagoa dos Barros pois não tem comunicação com o mar, como as lagunas têm.

    • Olavo Ludwig disse:

      Luiz uma reclinada é tudo de bom, sem dor nas costas, sem dor na bunda, sem dor nos ombros, sem dor no pescoço, sem dor nos pulsos e sem dor nas mãos. Só irás sentir dores nas pernas se forçares a pedalada. Se puderes aproxima esse dia o quanto antes e não irás te arrepender.

  3. Klaus disse:

    Aprovadíssima a nova nave. A mais confortável de todas e a mais leve e a mais bonita e etc…

    Estou apaixonado, heheheheh

  4. Beto Flach disse:

    Bah, Klaus! Este é cuiudo! Valeu por mais esta lição de cidadania. Ô, flautista metido! Parabéns, cara. Sou uma pessoa que aprendi a te admirar, mesmo em poucas “cruzadas” que a gente deu por aí. Que a vida sempre seja generosa contigo, amigo, com caminhos nos quais a visão não é suficiente para descortinar os limites. Viele Glück!

  5. Aires Becker disse:

    Lindo relato!
    Parabéns!

  6. heltonbiker disse:

    O catavento mais legal é o que estava preso na bike…

  7. Super bacana ler isso. Fico emocionada em saber que existem os que conseguem se conectar tão bem com a natureza e saber reconhecer as coisas REALMENTE importantes da vida. Sinto falta de ver isso nas pessoas.
    Parabéns p/ você, e mesmo não lhe conhecendo pessoalmente já mantenho uma certa admiração.
    Abraços,
    Fernanda Freymann

  8. Klaus disse:

    Olá Fernanda! 🙂

    Eu acho que as pessoas não são muito amadas pelos outros ainda menos por todos e por isso tem dificuldade de amar adiante. Eu acho que o caminho é a gente cuidar uns dos outros sem ter qualquer sentimento ruim de qualquer outra pessoa. Acho que a gente deve amar os outros até o ponto que essas pessoas consigam amar adiante. Bueno, mesmo que isso seja um trabalho de formiguinha mas talvez uma verdadeira revolução deva ter como base o trabalho de formiguinha. A filosofia de que não existem inimigos, só vítimas de um sistema que ninguém que ta vivo hoje criou é legal nem que seja para nos mantermos otimistas e com isso felizes, 😉

    Agora é inverno e ao invés de termos várias roupas diferentes para escolher antes de sair nós podemos escolher um conjunto de roupas que seja suficiente para tanto frio e dar todas outras roupas. Eu to fazendo isso. Acho mais tri dar para as pessoas com quem a gente cruza nos nossos trajetos do que entregar para outra pessoa distribuir o que também é tri, claro. Aí já espalhamos calor humano junto.

    Lembro de ti na massa crítica, 🙂 Temos muitos amigos em comum, qualquer dia nos conhecemos pessoalmente.

    Abraços,
    kLaus

Deixe um comentário